A MISTERIOSA ESCRITA DE JESUS
Os escribas e os fariseus trouxeram uma mulher que fora apanhada em adultério. Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em pleno adultério. Moisés, na Lei, ordena que tais mulheres sejam apedrejadas. Tu que dizes?» Diziam isto a fim de pô-lo à prova, e poderem acusá-lo. Jesus, porém, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo. Como eles insistissem, ergueu-se e disse-lhes: «Quem de vós for irrepreensível, que lhe atire a primeira pedra». E inclinando-se de novo escrevia na terra.
João 8, 3-8.
Este famoso episódio da mulher adúltera (dos quatro Evangelhos canónicos só o de João é que o refere) tem inspirado, ao longo dos séculos, distintas senão mesmo contraditórias reflexões aos mais variados exegetas. Para além de todo o simbolismo envolvido na pequena narrativa (matrimónio-adultério; individualidade-personalidade; o poder de julgar; o livre-arbítrio; a rigidez da Lei na Antiga Dispensação versus a Nova Dispensação e o Redentor do pecado do mundo; a não-reincidência no mal como condição indispensável para a superação interna; etc.) — uma pergunta comezinha acode-nos imediatamente ao espírito: QUE PALAVRAS OU FRASES ESCREVEU JESUS NA TERRA?
A Bíblia não o diz. (Ou talvez diga, de forma oculta, mas o véu da minha ignorância não me permite decifrá-lo). Na incapacidade de recorrer à clarividência positiva, com investigação directa nos «arquivos» da Memória da Natureza, auscultemos alguns dos que se debruçaram sobre o assunto. Comecemos por Jerónimo, doutor da Igreja do século iv, autor da tradução latina da Bíblia conhecida como Vulgata Latina [1]. Jerónimo, a quem o instrutor rosacruciano Edmundo Teixeira
(1922-1994) — meu grande inspirador — chama «imaginoso» no seu magnífico Curso de Cristianismo Esotérico, pretende adivinhar que Jesus escrevia na areia os pecados daqueles que se aproximavam para ler, o que, naturalmente, os afugentava (cf. Patrologia Latina, vol. 23, 1863, col. 553). Veremos dentro em pouco que o erudito Jerónimo talvez não estivesse a ser tão imaginoso quanto isso.
Mais recentemente, um estudioso muito conhecido, Robert Ambelain, Grão-Mestre de várias Obediências Maçónicas, perfilha a tese bizarra de que Jesus estaria a utilizar um processo mágico divinatório, envolvendo provavelmente um ritual de purificação. No seu livro Jésus ou le mortel secret des Templiers (Éditions Robert Laffont, Paris 1970), Ambelain diz que o gesto de Jesus corresponderia a uma interrogação Geomântica (pág. 190). Em todo o Médio Oriente, desde há muito e ainda em tempos actuais, certos adivinhos obtêm respostas por meio dum ritual chamado Darb el-Remel — a «arte da areia» —, onde se traçam 16 figuras oraculares com o dedo, no chão arenoso. Também se pode tratar dum «desligamento» psíquico de carácter especial, purificatório: traçam-se na areia ou na terra certos diagramas mágicos, faz-se passar o paciente por cima e logo este se encontra liberto, pois o «espírito mau», obsessor, não pode resistir à passagem sobre os caracteres sagrados.
O defeito desta hipótese é óbvio. Jesus NÃO era um «mágico»: Jesus era o Vaso do Cristo.
Todas as Suas palavras e acções estavam impregnadas pela refulgência crística que não se coadunava com técnicas operacionais de baixa magia. Os Seus «milagres» (a que o Iniciado João, no Quarto Evangelho, prefere chamar «sinais») simplesmente denotavam um avançadíssimo e profundíssimo conhecimento das chamadas «leis da Natureza», que os seres humanos penosamente vão desbravando, ao longo dos séculos, abrindo caminho de descoberta em descoberta, qual delas a mais estonteante, por meio de aturadas investigações científicas, de observações, de experiências — ou seja, através de um trabalho persistente e metodológico de dedução, de indução e de «tentativa e erro». Não esqueçamos, por exemplo, que a energia nuclear sempre existiu, mas só nas recentes décadas foi concedido ao homem o ensejo de a conhecer e dela se utilizar!
A autora Corinne Heline (1882-1975), discípula directa de Max Heindel e iniciada nos Mistérios Rosacruzes, avança uma explicação que não anda muito longe das intuições de Jerónimo. Na sua obra New Age Bible Interpretation, C. Heline conta o seguinte (vol. V, 1935, II Parte, pág. 125):
«O Professor Caspar Rene Gregory da Universidade de Leipzig, após exaustivas comparações entre velhos textos evangélicos e outras escrituras cristãs primitivas, revelou que, segundo descobrira no Monte Athos (Grécia), as misteriosas frases escritas pelo Mestre seriam:
1. Eldar assassinou o seu amigo Modor no deserto;
2. Hiram expulsou a viúva de Buvan da própria casa dela;
3. Meoman, com o seu poder, seduziu e subjugou a mulher de Arved.
Os três fariseus nomeados haviam sido os mais acérrimos em arrastar a mulher adúltera à presença do Cristo. Retiraram-se um a um, à medida que o respectivo nome ia sendo escrito por Ele».
Eis o que nos diz Corinne Heline. Eu, como não sei ler na Memória da Natureza, por aqui me fico. Se algum leitor tiver outras informações, desde já encarecidamente lhe rogamos que nos ilumine.
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[1] Esta versão foi aprovada como texto oficial da Bíblia, pela Igreja católica, durante o Concílio de Trento (1545-1563), e teve a sua primeira expressão pública, depois de oficializada, em 1502 sob o pontificado de Clemente VIII, daí que também seja designada por Vulgata Claementina.
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