ANTÓNIO DE MACEDO E A ALQUIMÍSTICA - MARIA ESTELA GUEDES
 













ANTÓNIO DE MACEDO
O NEOPROFETISMO E A NOVA GNOSE

Da Cosmovisão Rosacruz aos mitos ocultos de Portugal
Hugin Editores, Lisboa, 2003

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António de Macedo reúne neste livro algumas conferências, entre elas as apresentadas ao Colóquio Internacional “Discursos e Práticas Alquímicas”, organizado pelo Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa, Instituto S. Tomás de Aquino e TriploV, com impressão em livro na Hugin Editores os dois primeiros volumes. Todas as comunicações de António de Macedo estão em linha no site (http://triplov.com/macedo), bem como as dos outros participantes no colóquio (http://triplov.com/alquimias).

O livro estrutura-se em três capítulos, Arque-Mitos, Itinerário e Lusomitias. Com permissão da Hugin Editores e de António de Macedo, pomos em linha o texto “Inquisição e tradição esotérica”, da terceira parte do livro, não só pelo seu intrínseco valor, como para alertar os interessados para o colóquio “Inquisição Portuguesa: Tempo, Razão e Circunstância”, que terá lugar de 20 a 22 de Outubro de 2004 na Faculdade de Letras de Lisboa. O colóquio é promovido pelo Instituto São Tomás de Aquino, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, pelo Centro de Estudos de Cultura e Ciência Brasil-Europa e pelo Centro de História da Universidade de Lisboa.

António de Macedo é um alquimístico, perito em lidar com textos de um ponto de vista da filosofia oculta. Isto é, quer o autor quer esses textos participam de uma esfera de discurso em que o conhecimento é transmitido de forma velada, por ser secreto. Por isso, este conhecimento é em geral considerado pelas pessoas como oposto ao científico. O discurso da ciência, quando oferece barreiras à compreensão, não é por ser secreto, sim por exigir uma aprendizagem prévia de noções e teorias, que implicam glossário próprio. Tudo isto é uma ilusão, esta visão das diferenças não passa de um cliché. O discurso científico não se opõe ao esotérico nem pela ausência de segredo nem por causa da terminologia específica, sim pelo lugar de onde fala o enunciador. Seria outro cliché dizer que o enunciador científico fala do lugar do Poder e o místico do lugar do despojamento dos bens materiais. Para já, não existe uma ciência, existem duas, pelo menos: a que estagnou no cárcere do seu próprio paradigma, e a que sabe, e por saber recorre ao segredo e a técnicas não-científicas para o entremostrar: essas técnicas são as do poeta e do esoterista. Não vejo grandes diferenças entre este tipo oculto de ciência e a alquimística de António de Macedo, salvo na intenção do que se publica e nos objectivos da investigação. Do ponto de vista retórico, ou literário, existe permeabilidade entre a arte, a ciência e a tradição esotérica.

É de segredos que trata o livro de António de Macedo, entre eles os que dizem respeito aos grandes mitos portugueses - sebastianismo, V Império, culto do Espírito Santo. O segredo existe quando é necessário seleccionar leitores. Por exemplo, no tempo da Inquisição, era necessário passar mensagens nos textos de maneira a não serem percebidas pelos inquisidores. António de Macedo fala até de modos de esconder os textos, dentro de livros com capas e títulos enganadores. Eu trabalho, como se sabe, com textos científicos cujos segredos se transmitem de forma análoga. Mas todos os segredos são de Polichinelo, como diria Paolo Fabbri. São segredos de Polichinelo para quem sabe. Quem sabe, lê claramente. Para quem não sabe, o segredo é real e não de Polichinelo. Quem não sabe, detecta a presença do código, mas falta-lhe depois chave para descodificar a mensagem. Há outras formas de passar mensagens secretas, a mais clássica do esoterismo é o símbolo. Dirão que o seu significado está hoje descodificado nos dicionários de símbolos, mas o símbolo é polivalente, ambivalente e polissémico. Por isso, face a dado texto simbólico, para quem tem a chave, o seu segredo é de Polichinelo. Quem não tem a chave, apenas detecta a presença do símbolo.

O símbolo é outro dispositivo usado no texto científico. Símbolos como o 3, o 33, o 666, o triângulo, o duplo, a pedra e alusões a S. João, são frequentes. E porque são frequentes, face a um mapa como o que se vê abaixo (1), sabendo que representa parte da área frequentada no século XIX por naturalistas como Rosa de Carvalho, Paulino de Oliveira e Júlio Henriques (2), é fácil verificar que está marcado com símbolos: o 3 da figura 3, o 3 das três vales, perdão, das três valas do Paúl de Arzila, a forma do desenho que limita o espaço do paúl - evoca uma pedra triangular - e uma das colunas sobre que repousa a pedra, apontada por uma linha tracejada, o Casal de S. João.

Hoje vivemos em democracia, não se justificam segredos como os do tempo da Inquisição ou mesmo do período da censura anterior ao 25 de Abril. Porém os segredos permanecem, porque são diversas as suas motivações e porque no curso dos tempos se vão perdendo as chaves dos códigos. Há segredos por razões de Estado, há segredos de ordem divina, há segredos de ofício susceptíveis de enganar os oficiais do mesmo ofício, que geram novos segredos para salvar as aparências, e estes são os que pessoalmente mais enfrento.

António de Macedo enfrenta segredos da Tradição, entre ele e a origem dos mitos passou muito tempo, há chaves perdidas. Mas ele é hábil na exegese dos textos, ajuda-o o grande conhecimento adquirido na prática de leitura e a sua crença. A crença move montanhas, é uma energia interior muito poderosa. Por isso é sempre enriquecedor lê-lo, há sempre véus que se rompem para nos deixar ver um pouco mais além e subir mais um degrau, nessa viagem que representa a grande diferença entre o alquimístico e o científico: o espírito tende para o céu e nada limita as suas asas. O cientista, ainda que descubra a nova maneira de chegar a Saturno sem necessidade de naves espaciais, está sempre limitado pelo plafond...

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(1) Francisco Ferrand de Almeida, "Paul de Arzila: futura reserva da biosfera". Cyanopica, 4 (3), 1986. Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

(2) Veja as cartas de Rosa de Carvalho em http://triplov.com/rosa, e a minha comunicação ao IV Colóquio Internacional Discursos e Práticas Alquímicas, "Cartas de Rosa de Carvalho: Há uma ciência maçónica?", em
http://triplov.com/coloquio_4/meg1.htm

 

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Fonte:  TRIPLOV

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